domingo, 13 de fevereiro de 2011

Romantismo Gaúcho.


Permita morena, que eu sonhe contigo, num rancho onde abrigo meus dias de frio.
Permita morena, que eu veja teus olhos, buscando os meus olhos nas águas do rio.
Permita morena, que eu pegue a guitarra, e solte as amarras da minha ilusão.
E cante num verso meus ternos segredos, vestidos de medo, amor e paixão.

Permita morena, que eu ceve outro mate, pra dor que me bate nesta solidão.
Permita morena, que chame teu nome, matando a fome do meu coração.
Se acaso morena teus olhos luzeiros, tiver paradeiro em outro olhar.
Perdoa morena meus olhos tristonhos, perdoa os meus sonhos se contigo eu sonhar.
Perdoa morena, se trouxe comigo, teu lindo sorriso na graça do olhar.
Perdoa morena, se tenho saudade, me falta coragem pra te procurar.
Não chores morena se à noite sinuela, povoar de estrelas teu meigo sonhar.
E quando enxergares a estrela cadente, é meu sonho insistente a te cortejar.


Jairo Lambari Fernandes.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A hierarquia do churrasco.

       Quando entramos numa churrascaria, esquecemos o bom senso. Ficamos meio primitivos, animais rosnando, sem tempo de repor o guardanapo na boca. A vontade é pegar a carne com as próprias mãos, cortar com os dentes e sentir o sangue escorrer pelo queixo.
       É o fim da etiqueta. Não há declaração de casamento que possa ser feita num espeto-corrido. O noivo abrirá a caixinha aveludada do anel com as mãos gordurosas? Como começará o assunto?
       — Amor, queria dizer algo importante…
       — O quê?, a possível noiva tenta se desvencilhar do bife e acelerar as mordidas.
       — Tudo bem, eu espero terminar o pedaço…
       Só que chega outro e outro e outro pedaço e não existe pausa de cinco minutos para uma confissão arrebatada. E o possível noivo suará frio, assustado com o número de pedidos de sua musa e logo vai concluir que não terá dinheiro suficiente para manter o relacionamento.
      Toda mesa é uma jaula com fome. O espeto corrido tem suas artimanhas, toalha de mesa de papel, que será retirada com o novo cliente, palitos Gina para usar tanto na dentição como de colher no cafezinho, e os potes de farinha branca e mista, que servem para a criança brincar de escorregador no prato.
      O que predomina no salão é uma melancolia de ossos. Um sentimento de inferioridade na saída, uma desilusão de que nunca seremos capazes de dar conta do recado. Há um desespero auditivo, com ofertas das mais diversas carnes disparadas de todos os lados, um desespero olfativo, complicado diferenciar os cheiros, e um desespero gustativo, o medo de perder aquela joia da brasa, o que impele o freguês a aceitar indiscriminadamente o que aparece pela frente.
     Churrascaria é uma festa de família somente com desconhecidos. É muita intimidade para ser partilhada com estranhos. Impossível ser educado, não arrotar, não cometer alguma gafe. É coisa para vikings.
     Mas há uma hierarquia secreta entre os garçons, que poucos reparam, tão concentrados em compensar o valor do rodízio.
     Já enxergou jovem segurando o espeto de picanha? Claro que não. É arte para veterano. O garçom da picanha será o mais antigo da casa, o general da faca. É o funcionário graduado, com medalhas de combate nos esbarrões. Localiza os clientes pela colônia e tem a patente abaixo unicamente do dono do restaurante.
     Em seguida, descobriremos o protagonista dos filés, um agente secreto entre a cozinha e o bar, com informações quentes dos andares da churrasqueira e da disponibilidade real do frigorífico.
     Depois, os atendentes da maminha, do vazio, da alcatra e do lombinho, um terceiro escalão ainda digno e solicitado, que costuma fazer o maior número de piadas para galgar posições e a simpatia dos comensais.
     No quarto bloco, os amigos do matambre, da costela, do cupim e da costelinha de porco, um grupo modesto, com no máximo três anos de ofício. Ambiciosos, porém sofridos com o excesso de rondas. Recebem um salário um pouco mais alto do que o guardador de carros. Escutam excessivas recusas, dependem de plantão psicológico para suportar a desvalia e a negatividade do trabalho. Obrigados a explicar, a cada instante, que a “picanha já vem”. São conhecidos como a esperança do boi. Discutem o relacionamento de madrugada com a mulher, sempre inflexível com o posto do marido, teimando que ele é frouxo e deveria tentar se impor e aumentar as estrelas do avental.
     Na rabeira, encontraremos os gurizotes. Sim, os estreantes, com espinhas na cara e barbicha de bode, admitidos recentemente no lugar, que necessitam experimentar privações e vexames para se tornarem homens duros e bravos, preparados ao selvagem atendimento do público. Eles pastam mais do que passam. Responsáveis por carregar bandejas de coração de galinha, de salsichão e de abacaxi. Não desfrutam o direito de manejar espeto e lâminas de guerra. Estarão abastecidos de patéticas colheres e pegadores.
     Formam uma brigada inofensiva, de garotos de recados. Experimentam a suprema humilhação numa churrascaria: são os únicos garçons desarmados.' 

Fabrício Carpinejar.

Frases para o mês de Fevereiro/2011.


Dia 1 - Há pessoas silenciosas que são muito mais interessantes que os melhores oradores.
Dia 2 - Pobre do discípulo que não deixa seu mestre para trás.
Dia 3 - A criança aprende pelo que o adulto é, e não pelo que ele fala.
Dia 4 - Quanto mais ajudar os outros mais irá encontrar quem o ajude.
Dias 5 e 6 - Amor é preocupação ativa com a vida e com a evolução daquilo que amamos.
Dia 7 - Uma vida de boa qualidade exige mais determinação e disciplina do que qualquer outra escolha do ser humano.
Dia 8 - É belo viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante.
Dia 9 - Evitamos muitos erros quando temos a humildade de aprender com a experiência dos outros.
Dia 10 - A única simplicidade que vale a pena conservar é a do coração, simplicidade que aceita e flui.
Dia 11 - Não há investimento melhor para uma comunidade do que dar leite para as crianças.
Dias 12 e 13 - Todos somos feitos do mesmo barro, mas não no mesmo molde.
Dia 14 - Meus pensamentos de prosperidade criam a prosperidade dentro de mim.
Dia 15 - A inveja consome os invejosos como a ferrugem o ferro.
Dia 16 - O tempo dura bastante para aqueles que sabem aproveitá-lo.
Dia 17 - Somos tão responsáveis pelo que fazemos como também pelo que deixamos de fazer.
Dia 18 - O trabalho fornece o pão de cada dia, mas é a alegria que lhe dá sabor.
Dias 19 e 20 - A vida é uma arriscada aventura ou não é nada.
Dia 21 - Quem enxuga lágrimas alheias não tem tempo de chorar.
Dia 22 - A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram.
Dia 23 - Afligir-se antes do tempo é afligir-se duas vezes.
Dia 24 - A eloquência é a arte de dar vulto as coisas pequenas e reduzir o vulto das grandes.
Dia 25 - Um triste destino para o homem: morrer desconhecido por todos e às vezes desconhecido de si mesmo.
Dias 26 e 27 - A liberdade é tal como a sorte: nociva a uns, mas útil a outros.
Dia 28 - A confiança em si próprio é o primeiro segredo do sucesso.